Falta de delegados na Polícia Civil eleva violência e impunidade de criminosos no CE.
A maioria dos crimes de homicídios fica sem autoria conhecida e as taxas de assassinatos só aumentam devido à impunidade e reincidência dos matadores.
O Estado do Ceará possui uma população atual estimada em 8,843 milhões de habitantes e uma média de 12 homicídios/dia.
Os assassinatos se avolumam nas estatísticas da Segurança Pública e, no último mês de maio, ultrapassaram a marca dos 450 casos.
No ano, já são cerca de 1.802 homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, em apenas cinco meses. E como a Polícia vai investigar tudo isso? Há equipes de delegados, escrivães e inspetores na Polícia Judiciária cearense para apurar essa avalanche de mortes violentas e impedir que os criminosos fiquem impunes?
A resposta é não. Enquanto o governo investe, cada vez mais, na Polícia Militar, com seguidos concursos para soldados, e ao fim de 2018 com mais de 4 mil novos PMs, na Polícia Civil – a responsável pela apuração dos assassinatos e demais crimes – a situação é de caos. Na estrutura organizacional da instituição o quadro de delegados é de apenas 762 cargos, e pasmem, destes, cerca de 350 estão vagos, o que representa quase 50 por cento do efetivo previsto. Sem delegados não há inquéritos, e sem inquéritos não há indiciamento de criminosos.
É a bola de neve da impunidade e da reincidência!
Este é um dos principais fatores que explicam a alta da criminalidade e da violência no Ceará.
Os assassinatos não são investigados.
Pelo menos, a maioria.
É humanamente impossível apurar tantas mortes com poucos policiais. Estima-se (mas ninguém confirma) de que nas prateleiras da DHHP estejam mais de 6 mil inquéritos sem autoria de crime definida. E os assassinos estão livres e soltos nas ruas fazendo mais vítimas.
Enquanto Pernambuco investiu alto na Polícia Judiciária nos últimos anos, e foi o único da Região Nordeste a apresentar queda na taxa de homicídios nos últimos dois anos, segundo estudo publicado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/Ipea, o Ceará afunda nas estatísticas, conforme a mesma pesquisa indicou. Ao lado de Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Amazonas e Tocantins, o nosso estado permanece com um dos mais violentos do País.
ATÉ OS CHEFES???
A criminalidade anda tão alta em Fortaleza e sua Região Metropolitana, que as equipes da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e da Perícia Forense (Pefoce) ficam feitas “baratas tontas” para atender o grande volume de ocorrências em locais de crimes diariamente.
A falta de delegados para compor as equipes de rua tem feito com que os diretores da Polícia Civil, e até mesmo o próprio delegado-geral, tenham sido chamados, nos últimos dias, para compor equipes extras. Se em maio foram registrados mais de 450 assassinatos no estado, e cerca de 187 somente em Fortaleza, o mês de junho começou no mesmo ritmo: foram 76 homicídios em apenas cinco dias, o que eleva a média para 14 homicídios/dia.
GENOCÍDIO
A alta taxa de mortes violentas no Brasil chega a beirar um caso de genocídio. As taxas de assassinatos transformaram os crimes de morte em epidemia no nosso país.
Conforme a pesquisa do Ipea e do Fórum da Segurança Pública, os negros e pobres estão sendo dizimados nas periferias das maiores cidades brasileiras, com maior intensidade nas regiões Norte e Nordeste. E olhem que a pesquisa diz respeito a 2015.
De lá para cá, o quadro só tem se agravado. A possibilidade de um jovem negro ser morto no Brasil é quatro vezes maior que a de um branco ou de outra raça, diz a pesquisa.
FACÇÕES EM GUERRA
A chacina ocorrida no último sábado (3) numa casa de praia no Porto das Dunas, em Aquiraz, pode ter sido mais um sangrento capítulo na “guerra” entre as facções GDE (Guardiões do Estado) e CV (Comando Vermelho).
No entanto, somente as investigações à cargo da DHPP poderão confirmar isto. Porém, num dos seus constantes comunicados através das redes sociais, supostos chefões da GDE teriam informado que nenhum dos mortos pertencia à quadrilha.
A chacina teria sido praticada por membros do CV como forma de retaliação às mortes de seus integrantes, nas últimas semanas, na Grande Fortaleza.
Em meio a tudo isso, surgiu uma ordem nos gabinetes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para que nenhum delegado fale sobre a investigação.
O “cala a boca” está sendo cumprido!
DINHEIRO VOADO…
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social vai gastar cerca de R$ 200 mil em diárias de viagem e ajudas de custos para que 12 integrantes das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros Militar viajem aos Estados Unidos e a Alemanha.
O objetivo é treinar esse pessoal para formar as equipes de pilotos e tripulantes dos dois novos helicópteros que foram adquiridos pelo Estado.
As aeronaves são de fabricação alemã, modelo Airbus H135 Heliônix. Juntando os custos dos dois aparelhos, peças de reposição, ferramentas e treinamento, o governo vai desembolsar R$ 80 milhões.
CALADO ESTAVA…
Depois de sua viagem à Colômbia, onde foi conhecer as estratégias do governo daquele país que reduziram a criminalidade, o secretário da Segurança Pública, delegado federal André Costa, voltou diferente.
Anda meio calado diante de tudo o que está ocorrendo nas ruas. Para ele é difícil a divisão de tantas tarefas, entre cuidar da própria casa (proteger, estimular, capacitar e qualificar a tropa) e das ruas (reduzir a violência).
Algumas metas que foram estabelecidas no começo de sua gestão, dentro do programa “Ceará Pacífico”, tiveram que ser reduzidas face ao déficit de efetivo, viaturas e verbas. Na próxima coluna (sexta-feira) daremos detalhes disso…
E TEM MAIS:
Quarenta e seis policiais civis e delegados estão sendo treinados na Academia estadual de Segurança Pública (Aesp).
Eles fazem parte da primeira turma do Primeiro Curso de Operações Táticas Especiais da Polícia Civil. Vão aprender as técnicas de como agir em situações de crise, tais como resgate de reféns, invasão de cativeiro (invasão tática), localização e captura de criminosos fortemente armados, combate ao crime organizado etc.
Está pronto para ser votado no Senado Federal o projeto de lei que cria no Brasil a Polícia Penal. Ela será desdobrada em federal e estaduais.
O objetivo é transformar os atuais agentes penitenciários em policiais penais, que serão qualificados para a segurança das unidades prisionais, dispensando as polícias civil e militar de atividades como escolta de presos, transferências, revistas em cadeias e outras atribuições afins.
Mesmo sem efetivo suficiente de delegados, inspetores e escrivães, repousa na mesa do secretário da Segurança Pública e no gabinete do delegado geral da Polícia Civil, Everardo Lima, projeto para a criação de mais duas DHPPs. Seria uma no Norte e outra no Sul do Ceará, com sedes em Sobral e Juazeiro do Norte, respectivamente.
E uma equipe da DHPP foi enviada para o Interior. Os policiais receberam a missão de realizar investigações para esclarecer uma sequência de crimes de pistolagem na cidade de Aiuaba, nos Inhamuns, onde várias pessoas de duas famílias foram mortas por conta de uma disputa política.
Esta briga já deixou pessoas mortas também em Fortaleza e até fora do Ceará.
O extermínio de adolescentes no Ceará não tem trégua.
Neste ano, já são 157 vítimas em cinco meses, uma média de 31,4/mês, ou seja, um por dia.
À cada 24 horas um garoto ou garota é executado. Com a deflagração da guerra entre as duas facções GDE e CV, este número só tende a aumentar, infelizmente.
A cracolândia que vem se formando na Rua Princesa Isabel, no Centro de Fortaleza, na calçada do novo Beco da Poeira está de vento em popa, pois só cresce todas as noites, levando bons lucros aos traficantes estabelecidos em quitinetes e “curtiços” em casarões antigos das ruas Princesa Isabel e Teresa Cristina. Cadê a Polícia???
Fonte: Ceará News.
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