Diretor cearense organiza vaquinha virtual para gravar filme em Quixadá
Curta-metragem “Do tanto de telha no mundo” é o primeiro projeto na carreira de Bruno Brasileiro. Campanha de financiamento coletivo online vai até 19 de novembro
Em 2020, esse tradicional palco para inúmeras histórias volta a fervilhar. O diretor e roteirista Bruno Brasileiro vai filmar seu trabalho de estreia na região. O curta-metragem “Do tanto de telha no mundo” terá como locações o distrito de Juatama, vilarejo rural situado cerca de 17 quilômetros do Centro de Quixadá. Para dar continuidade ao projeto e concluir seu primeiro filme, o realizador cearense organizou uma campanha de financiamento coletivo online.
A iniciativa segue até o dia 19 de novembro. O valor solicitado pela produção é de R$ 5 mil reais. O orçamento será destinado a demandas como alimentação, combustível, aquisição de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e elenco. Abraçar o projeto significa apoiar o início de carreira de novas e novos cineastas. Ajuda a fomentar a cultura cinematográfica nordestina, mais especificamente a do Ceará.
O curta terá duração próxima de 20 minutos e a estreia do cearense na direção reserva traços de muita afetividade. O nome do filme advém de uma história bem particular de Bruno. Criança, quando a mãe lhe perguntava o tamanho do afeto que ele sentia por ela, a resposta era das mais poéticas.
“Morávamos em uma casa simples em uma pequena cidade do interior do Estado, dentro de casa as telhas eram o único obstáculo que nos interrompia a visão do céu. Foi aí que, olhando para cima, cheguei a uma conclusão e respondi com as seguintes palavras: “Te amo do tanto de telha no mundo”, detalha o diretor no texto de apresentação do financiamento.
Mudanças
O enredo nos apresenta um reencontro entre mãe e filho. O personagem Leo volta a Juatama para uma inesperada visita. Há muito tempo o jovem não via Cleide. Durante a estadia, ambos terão que lidar com antigos conflitos que ocasionaram o afastamento dessa relação. Mesmo sem saber qual será a reação da mãe, Leo reúne coragem para revelar a real intenção de seu retorno à cidade natal.
A atriz Ana Marlene interpretará Cleide. Também diretora e uma das fundadoras da Trupe ‘Caba de Chegar de Teatro’, o mais antigo grupo de teatro de rua de Fortaleza, a artista tem no currículo uma série de trabalhos no cinema como “Lua Cambará: Nas Escadarias do Palácio” (2002), “O Caminho das Nuvens” (2003), “O Quinze” (2004), “Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito” (2008), “A Lenda do Gato Preto” (2015), “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral” (2018) e “Fortaleza Hotel”; o próximo trabalho de Armando Praça (“Greta”).
Mariano Nobre será Leo. O jovem ator iniciou a carreira na música, passou a estudar teatro e o cinema chega com “Do tanto de telha no mundo”. No site do financiamento coletivo do filme, Nobre falou da sua luta enquanto artista preto e nordestino. “Ando onde meus ancestrais cruzam comigo e descubro o que sempre soube: Atuo como quem vive, e vou”, descreve.Mesmo com os traços autobiográficos, o filme investe na força universal do amor. Fala para um público amplo ao adentrar os dilemas profundos entre uma mãe e seu filho. Enfrentar mudanças é algo instintivo e está presente em cada um de nós. “Leo decide mudar. Mesmo com inseguranças, revisita sua origem, banha-se na fonte de si mesmo, se reconhece e mergulha de cabeça no desconhecido. Leo é você e eu”, descreve o diretor Bruno.
Apoio
Além de Bruno, 16 pessoas compõem a equipe técnica. Juatama será a moldura da trama, território no qual Leo e Cleide viverão um episódio de resistência e afeto. Fazer parte desse projeto é possível e dará um valoroso aporte ao cinema produzido com garra e coragem.
Os valores em dinheiro para o financiamento variam de R$20 a R$ 500. Cada doador terá alguma recompensa de acordo com a quantia entregue. Quem ajudar com R$ 50, por exemplo, receberá uma cópia do roteiro (no formato PDF), pôster digital, link do vídeo de Leo cantando a canção original do filme e link da obra após a estreia oficial.
Fazer cinema independente é uma luta constante. Todo tipo de apoio é bem vindo e a cultura cinematográfica só tem a contribuir à criação de emprego e renda. Por colocar Quixadá novamente no mapa do audiovisual brasileiro, temos um documento profundo da história no Ceará.
Além de “A morte comanda o cangaço”, o município foi imortalizado em obras como “O cangaceiro trapalhão” (1983), “Luzia Homem” (1984), “O Quinze” (2004), “O Auto da Camisinha” (2009), “Homens com cheiro de flor” (2011) e “A lenda do Gato Preto” (2015). Também vale citar “Área Q” (2011), filme de Gerson Sanginitto que foi filmado em Quixadá, Quixeramobim e Los Angeles.
Serviço: Campanha de financiamento coletivo do filme “Do tanto de telha no mundo”, de Bruno Brasileiro. Até 19 de novembro nesse link.
Entrevista com o diretor e roteirista Bruno Brasileiro
Verso: Como foi o processo de encontrar a locação, o que explica a escolha de Juatama?
Bruno Brasileiro: Não foi bem uma escolha, na verdade foi por pura necessidade. Quando estávamos buscando as locações, minha única exigência era que precisava ser no interior do estado. Minha cidade, inspiração para o filme, fica muito longe de Fortaleza, não tendo como gravarmos lá por aumentar o custo da produção, que já não tem tantos recursos, então o microfonista falou sobre ter uma casa em Quixadá, lugar mais perto mas que poderíamos fazer um recorte do interior.
Apesar de bonita e ter esse facilitador para a equipe, Quixadá era muito grande para a história que escrevemos tipicamente interiorana. Uma produtora de Local, que nos ajuda muito, dona Edna Uchôa, nos falou sobre Juatama, distrito de Quixadá. Daí em diante tudo foi fluindo, encontramos a casa que iremos gravar, a estação e as pessoas da cidade que logo acolheram o projeto.
V: Como você vê essa opção de trabalhar com o financiamento coletivo?
BB: Eu gosto bastante, mostra que o povo apoia a produção local, querem se ver em tela, principalmente o pessoal da minha cidade, onde a campanha repercutiu bastante. Nos é interessante, pois, como primeiro projeto de muitos(as), vai nos impulsionar para o mercado de trabalho.
V: Entre a concepção de roteiro e a finalização do filme, serão quantos meses de trabalho?
BB: Será entregue no final de 2021.1 e começamos no início de 2019.1, ou seja dois anos e meio trabalhando no projeto.
V: Você conta uma história que tem um pouquinho de sua vivência. Tem uma força afetiva imensa no projeto. Como é pra você contar essa história em seu trabalho de estreia na direção e roteiro?
BB: Desafiador. Ter tanta coisa minha no projeto faz com que caia muita pressão em mim. O filme surgiu de minhas vivências, mas hoje, com todas as mudanças que já vieram, sinto que sou diferente do personagem que construí. Também sinto que o Leo ganha mais identidade para cada pessoa que colabora a sua maneira com o projeto
Fonte Diário do Noredeste
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