Pesquisadores avaliam dados históricos e estabelecem novos cálculos com inteligência artificial para dar assertividade às medidas de combate à estiagem no Estado; percepção social do fenômeno também é estudada

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Legenda: Os pesquisadores vão a campo desenvolver suas pesquisas. A Funceme também mantém contato com instituições da Geórgia, Alemanha e Holanda
Foto: Juliana Lima

Foi ao perceber as similaridades entre o semiárido tunisiano e o cearense que a doutoranda em recursos hídricos, Fajr Fradi, resolveu atravessar fronteiras para dar continuidade aos seus estudos sobre seca. “Meu objetivo é entender a perspectiva do uso das águas por diferentes usuários porque tem, por exemplo, em um açude, pessoas que querem fazer agricultura, criar gado ou peixes. Estou estudando essas diferentes perspectivas e as opções para cada usuário de como combater essa seca”, conta.

Para isso, a cientista fez diversas visitas técnicas à bacia do Riacho Forquilha, em Quixeramobim, no Sertão Central, e à bacia do Riacho do Sangue, no Vale do Jaguaribe. “Vou criar indicadores de resiliência para seca. Então, um usuário que tem duas opções para manter o uso da água, como um açude e um poço, ele é mais resiliente do que um outro usuário. É essa informação que eu quero colocar porque acredito que no Estado tem uma infraestrutura hídrica muito sólida, só que falta a percepção social, e entender se as pessoas querem alocar o açude para abastecimento ou para agricultura”.

Avaliação

De olho no que acontece nos oceanos, o cientista colombiano Luis Carlos Hernández consegue estabelecer relação com o volume de chuva esperado para o Ceará com antecedência em torno de seis meses. “Eu trabalho com previsão de variação dos afluentes nos reservatórios estratégicos do Estado. Para fazer isso utilizo modelagem hidrológica. São (metodologias) estatísticas, mas estou entrando com inteligência artificial. O objetivo é fazer essa previsão e incluir informações climáticas”, explica o pesquisador.

Na rotina de pesquisas, foram produzidos artigos científicos com as informações em constante troca com o grupo de trabalho formado por outros pesquisadores e orientadora. “A gente coloca as informações nos modelos para ter ganhos na previsão e com essas informações dos indicadores, como as temperaturas da superfície do mar, por exemplo, a gente tenta ter um ganho da previsão para a quadra chuvosa, prever os volumes entre fevereiro a maio e auxiliar a gestão dos recursos para tomar decisões no Estado”, destaca Luis Hernández.

O físico Gbekpo Aubains Honsou-Gbo, de Benin, país da África Ocidental, também estuda os fenômenos dos oceanos e a série histórica de chuvas no Ceará para encontrar padrões. “No ano passado, a gente analisou a influência do Atlântico Tropical, na região equatorial, sob a chuva com antecedência de mais de quatro meses. Ou seja, olhando as condições oceânicas, entre julho e setembro, a gente tenta ver o cenário de chuva no Nordeste entre fevereiro e maio”, frisa o especialista com doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Dessa forma, é possível entender, dentre outras coisas, como o El Ñino – aquecimento das águas nos oceanos – influencia direta ou indiretamente nas precipitações do Nordeste. “O modelo que a gente desenvolve, a gente usa para dar um suporte na tomada de decisões. O Governo pode ter uma ideia da estação chuvosa desde essa época, por exemplo, para fazer o planejamento e gerenciamento”, explica o físico.

Importância

Eduardo Sávio, presidente da Funceme, avalia as iniciativas como exemplo de fortalecimento entre instituições internacionais dedicadas ao estudos da seca. “Isto favorece outros olhares sobre o nosso semiárido, uma vez que nossos parceiros trabalham neste contexto com ferramentas, metodologias e envolvendo profissionais de várias disciplinas no entendimento dos problemas enfrentados pelas terras secas”.


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