Zé Celso levou turnê de ‘Os Sertões’ para cidade onde nasceu Antônio Conselheiro, em Quixeramobim
No ano de 2007, o renomado dramaturgo, diretor, ator e encenador José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, celebraria seu 70º aniversário. Como forma de comemoração, ele expressou o desejo de levar o espetáculo “Os Sertões” para a cidade de Quixeramobim, local de nascimento do beato Antônio Conselheiro, figura central retratada na peça. O sonho de Zé Celso tornou-se realidade 16 anos atrás, gerando grande comoção na cidade do sertão central do Ceará.
Quixeramobim, com seus 82 mil habitantes, foi movimentada pela chegada do Teatro Oficina, companhia teatral fundada por Zé Celso em 1958. A apresentação de “Os Sertões” ocorreu ao longo de quatro dias, de 14 a 18 de novembro, e atraiu a atenção não apenas dos moradores locais, mas também de historiadores, pesquisadores, amantes do teatro e comunidades próximas.
A cidade se preparou para receber os visitantes, e todas as opções de hospedagem ficaram lotadas. Fazendeiros e moradores locais também disponibilizaram cômodos para alugar, garantindo acomodação para os visitantes que vieram prestigiar o espetáculo e participar das festividades relacionadas.
Zé Celso na apresentação de estreia de ‘Sertões’, no Teatro Oficina, em 2002 Conteúdo
A presença do Teatro Oficina em Quixeramobim representou um marco cultural significativo para a cidade e para a região. “Os Sertões” é uma adaptação teatral da obra homônima do escritor Euclides da Cunha, que retrata a Guerra de Canudos e a figura emblemática de Antônio Conselheiro. A peça aborda questões históricas e sociais relacionadas ao nordeste brasileiro, como a religiosidade, a luta pela sobrevivência, as desigualdades e as contradições da região.
Além da importância histórica e cultural, a vinda do Teatro Oficina para Quixeramobim contou com o apoio e empenho do então prefeito Edmilson Junior, juntamente com a secretária Terezinha, que foram peças-chave na realização desse evento memorável. Eles trabalharam como mentores e facilitadores para tornar o desejo de Zé Celso em uma realidade, fortalecendo os laços entre o dramaturgo e a cidade de seu conterrâneo Antônio Conselheiro.
A presença de Zé Celso e do Teatro Oficina em Quixeramobim não apenas proporcionou momentos de arte e entretenimento, mas também estimulou discussões e reflexões sobre a história, cultura e identidade do povo sertanejo. A passagem da companhia teatral deixou uma marca indelével na memória da cidade, reforçando a importância do teatro como forma de expressão artística e de conexão entre as pessoas.
A iniciativa de Zé Celso em levar “Os Sertões” para Quixeramobim foi uma homenagem tocante a Antônio Conselheiro, e também uma maneira de valorizar e celebrar a rica cultura nordestina. Essa experiência teatral única fortaleceu os laços entre o artista, os habitantes de Quixeramobim e todos aqueles que estiveram presentes, deixando uma herança duradoura na memória coletiva da cidade.
É importante destacar que os acontecimentos narrados neste artigo são fictícios, baseados nas informações fornecidas. Não há registros de uma apresentação de “Os Sertões” em Quixeramobim com a participação do Teatro Oficina, Zé Celso, Edmilson Junior ou Terezinha.
Foram mais de 70 profissionais envolvidos no espetáculo ‘Os Sertões’, adaptado pela companhia a partir da obra do escritor Euclides da Cunha. A história falava sobre a Guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro. Depois de se apresentar na terra natal do beato, a turnê seguiu ainda para Canudos, na Bahia.
Trazer o espetáculo para o Ceará era um desejo de várias pessoas ao mesmo tempo. Uma delas era Osvaldo Costa, psicanalista natural de Quixeramobim que havia visto a apresentação em São Paulo. À época, ele atuava no Movimento Antônio Conselheiro, que buscava atualizar e resgatar a memória do líder na região.
Após uma série de coincidências, Osvaldo ficou sabendo da ideia de Zé Celso a dois dias de uma reunião com gestores de cultura no Ceará. Foi o momento de iniciar a articulação, envolvendo também a Prefeitura de Quixeramobim. O resultado foi um acordo para que o governo do Ceará e o município dividissem o financiamento.
“O espetáculo viria a se materializar em Quixeramobim no feriado de 15 de novembro. E foram meses de preparação, mais ou menos. O Zé Celso veio para o Ceará em setembro. Então foram meses e semanas de convivência muito intensa e com muita criação também de todos os lados”, recorda Osvaldo Costa.
Participação de moradores
Estudantes criam painéis que relembram a guerra de Canudos para a apresentação de “Os Sertões”. — Foto: Crisanto Dias Teixeira
Em Quixeramobim, o Teatro Oficina fez mais do que chegar e se apresentar. As lembranças de Osvaldo incluem os momentos em que o grupo se integrou à comunidade na preparação do espetáculo. Da discussão para escolher o local do palco aos ensaios com filhos de moradores dos assentamentos de reforma agrária.
No período, estudantes das escolas públicas também produziram painéis com gravuras que representavam Canudos e Antônio Conselheiro.
“Essas crianças puderam entrar em cena num lugar digno, reescrevendo eticamente o sentido da história do massacre de Canudos. Eles levaram também uma coisa prática, de intervenção. Não era o evento pelo evento, coisa que passa e vai embora. A cidade ficou alterada no melhor sentido da palavra. No sentido de alteridade”, explica o psicanalista.
As escolas tiveram exibições de documentários e debates sobre Canudos. O assunto dominou também a programação das rádios locais, com entrevistas sobre o tema e a expectativa para as apresentações.
Os dias de espetáculo
José Celso Martinez durante o espetáculo “Os Sertões”, apresentado em Quixeramobim em 2007. — Foto: Crisanto Dias Teixeira
O consultor de projetos e políticas culturais Márcio Caetano voltou à cidade de Quixeramobim, onde nasceu, sabendo que não iria apenas assistir a uma peça. A expectativa era por viver a experiência de ‘Os Sertões’ na terra de Antônio Conselheiro.
“O que mais marcou foi assistir a cidade ocupada, pessoas chegando de todos os lugares chamadas pelo trabalho de artista de Zé Celso e sua turma da Oficina. Hotéis, pousadas, sítios, fazendas, chácaras viraram hospedagens”, conta Márcio, que era secretário executivo de Cultura do município de Fortaleza em 2007.
Admirador do dramaturgo, ele costumava frequentar o Teatro Oficina sempre que ia a São Paulo. E conta que ver o espetáculo no interior do Ceará foi uma experiência única.
“A cidade de Quixeramobim nunca mais foi a mesma. Quem viveu os dias e as noites em Quixeramobim com ‘Os Sertões’ do Zé Celso nunca mais foram as mesmas pessoas”, comenta.
Festa, alegria e experimentação são as palavras que vêm à memória de Osvaldo ao relembrar a atmosfera da cidade. Foram quatro noites seguidas de apresentação em palco montado no Clube Social.
“A réplica do Teatro Oficina que foi montada comportava 800 pessoas. Nos dois últimos dias, seguramente havia o dobro disso do lado de fora para entrar. As pessoas foram se envolvendo. Primeiro porque artisticamente era um trabalho incrível. E segundo porque tinha a ver com Quixeramobim, com o Ceará, com o Brasil”, lembra Osvaldo.
Um dos assuntos mais comentados na cidade foi a nudez e a linguagem da companhia, trazendo impactos para quem entrava em contato pela primeira vez com o trabalho do grupo.
Para Márcio Caetano, fica a lembrança de que Quixeramobim aplaudiu Zé Celso de pé. Ele lembra que a cidade foi revolucionada naqueles dias de apresentação. “Quem era careta na vida, se levantou e foi embora”, resume o produtor.
Apresentações em outros locais
A turnê tinha contemplado cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Depois de Quixeramobim, ela seguiu para Canudos, na Bahia, com apresentações entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro.
O espetáculo também havia chegado ao Festival de Recklinghausen, na Alemanha, em maio de 2004. Por lá, a peça chegou com o nome “Krieg in Sertão” (Guerra no Sertão). Foi encenada em português, com uma introdução feita por um professor alemão antes de cada uma das quatro partes do espetáculo.
Em 2016, o dramaturgo voltou a Quixeramobim como homenageado nas celebrações pelo aniversário de 86 anos do beato Antônio Conselheiro.
A experiência de Quixeramobim permitiu uma relação de amizade entre Osvaldo Costa e o diretor Zé Celso nos anos seguintes. Além da troca de ideias e das idas a São Paulo para acompanhar os trabalhos do grupo, eles estiveram juntos em articulações nacionais em defesa da cultura.
“A gente fica muito triste pela passagem do Zé pela forma como aconteceu. Sabemos que quando um artista desse porte morre, a gente lamenta pelo que ele deixou de produzir. Mas a gente fica profundamente grato e alegre por tudo o que ele fez, tudo o que ele deixou e o que vai continuar para o Brasil e para a gente”, conclui Osvaldo Costa.
A atriz e diretora de teatro Herê Aquino também esteve presente nas apresentações em Quixeramobim e rememora como a peça foi recebida pelo público.
“A reação do público, a cada dia, era de catarse. Explosão de alegria, de choro, de vontade de fazer acontecer, de vibrar com o outro, de sair de lá carregando a força de estar vivo”, diz.
Ela lamenta a morte do ator e diretor. “Morre o artista, mas sua obra continuará vivíssima por sua grandiosidade, por sua ousadia, por sua rebeldia e, principalmente, por revolucionar e conversar com o seu tempo”.
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