Funcionário baleado por homem que decapitou zelador em hospital recebe alta
Carlos Sérgio Matos de Queiroz, funcionário baleado no Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, recebeu alta neste sábado (27) após quatro dias internado na unidade de saúde. Carlos Sérgio foi ferido na terça-feira (23) durante o ataque de Francisco Aurélio Rodrigues de Lima, ex-funcionário do hospital, contra o zelador Francisco Mizael Souza da Silva, que foi baleado e decapitado. O crime teria sido motivado por ciúmes.
O g1 conversou com Carlos Sérgio, de 63 anos, que trabalha no IJF há 41 anos e atualmente é funcionário do refeitório. Ele havia iniciado o expediente às 7 horas da manhã e, no momento do crime, estava em um corredor, na área de nutrição do hospital, indo entregar café a outro setor.
“Quando eu vi, o zelador passou por mim e o atirador [Francisco Aurélio] vinha atrás de mim”, recorda. De acordo com Carlos Sérgio, o atirador estava correndo atrás da vítima e disparando. Foi aí que uma bala atingiu Carlos no braço direito. “Eu tava com uma garrafa de café na mão, senti que a garrafa caiu da minha mão sem eu querer. Quando eu passei a mão que vi sangue, não tinha outra opção, eu fui logo pedir socorro”.
Segundo Carlos, Francisco Aurélio não tentou atirar novamente contra ele, e continuou a perseguir Mizael até a cozinha, onde ele seria decapitado logo depois. Já Carlos foi direto para o centro cirúrgico da unidade em busca de ajuda. O funcionário baleado foi operado na noite do dia 23 e foi necessário retirar uma artéria da perna dele para reparar a lesão no braço. Ele ficou internado até este sábado (27).
“Foi um livramento que eu tive. Não só eu, considero que todos os funcionários [tiveram um livramento] porque podia ter sido com qualquer um do jeito que foi comigo, podia ter sido num médico, em qualquer pessoa. E em mais pessoas”, desabafa.
Francisco Aurélio foi preso no mesmo dia no município de Aquiraz, vizinho a Fortaleza. Ele teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva na quarta-feira (24). Já o zelador Mizael Souza foi sepultado também na quarta-feira em Pacatuba, na região metropolitana de Fortaleza. Ele deixou uma filha de seis anos e a esposa grávida. Ele era funcionário do IJF há dez anos.
O IJF, onde o crime ocorreu, é uma das principais unidades de saúde de Fortaleza, referência no atendimento às vítimas de traumas de alta complexidade, lesões vasculares graves e queimaduras. O hospital é gerido pela Prefeitura de Fortaleza.
Carlos Sérgio só soube detalhes do crime, do autor e da possível motivação após a cirurgia. “Uma tragédia, covardia. Tenho nem palavras para expressar sobre isso porque nunca passava pela minha mente que isso ia acontecer onde eu trabalho há 40 anos”, conta.
Nos dias em que ficou internado, contou que o clima no hospital era “negativo, desagradável”. “O pessoal ficou em pânico. Foi trabalhar porque afinal de contas precisava trabalhar”, afirma.
O funcionário diz lembrar tanto de Francisco Aurélio quanto de Mizael, mas conta que “não sabia que eles dois tinham briga”. Sobre o atirador, afirma que “particularmente achava ele uma pessoa normal, nunca vi nenhum atrito, se teve não foi na minha presença”.
Agora que recebeu alta, Carlos Sérgio vai precisar realizar fisioterapia para recuperar por completo o movimento dos dedos da mão do braço atingido, que teve a mobilidade afetada porque a bala afetou um nervo.
“Eu tô me recuperando e meu esforço é voltar a trabalhar daqui, estourando, a dois meses. Eu pretendo ir [pro trabalho], mas com mais cautela, com mais segurança e pedindo mais norma na entrada e saída de funcionários e pessoas estranhas”, afirma.
Suspeito é ex-funcionário do hospital
Francisco Aurélio Rodrigues de Lima, principal suspeito do crime, teve a prisão convertida de flagrante para preventiva na última quarta-feira (24), após audiência de custódia. Ele tem antecedentes por desacato e um processo de medida protetiva contra ele.
Francisco Aurélio tem 41 anos e trabalhou como copeiro no IJF antes do crime, mas atualmente trabalhava como motorista de aplicativo, conforme o Tribunal de Justiça do Ceará.
Mesmo tendo sido demitido do hospital há mais de um ano, ele entrou lá usando o reconhecimento facial. Ele levava consigo uma mochila na qual carregava a arma de fogo usada para matar a vítima.
De acordo com o secretário de Segurança Pública do Ceará, Samuel Elânio, Francisco Aurélio atingiu Mizael com quatro tiros, e depois decapitou a vítima. Imagens que circulam em grupos mostram a vítima fardada, caída no refeitório, com a cabeça ao lado. Também é possível ver uma faca próximo ao corpo.
O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou que a companheira de Francisco Aurélio disse, durante depoimento, que mantinha relacionamento com ele há cerca de um ano e meio e que ele sentia ciúmes dela com a vítima e com outros funcionários do IJF.
Ela falou ainda que era colega de trabalho da vítima, Mizael Souza, mas que não possuía amizade próxima com ele.
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A defesa de Aurélio é feita pelas advogadas Jéssica Rodrigues e Ariel Amorim. Em entrevista ao g1, Rodrigues informou que a defesa acompanha as etapas da investigação policial.
A advogada disse também que Aurélio pretende colaborar com o trabalho investigativo, e que ele tinha intenção de se entregar aos policiais antes de ser preso. “A gente ainda vai se debruçar sobre o processo. O inquérito ainda não foi concluído”, comentou Rodrigues.
“Nós negociamos com a polícia para que acontecesse tudo [da prisão] dentro das formalidades legais, sem nenhum excesso tipo de nenhuma das partes. Ele tem interesse de colaborar com a Justiça”, complementou a advogada.
O TJCE informou que foi instaurado inquérito policial e o caso segue em andamento, aguardando denúncia do Ministério Público.
Família da vítima não sabia sobre ameaças
Francisca Escóssia, irmã de Mizael Souza, afirmou que a família desconhecia qualquer tipo de ameaça contra ele.
“A gente nunca soube que ele estava recebendo ameaças. Meu irmão não tinha problemas com ninguém e era muito alegre. Gostava de brincar com todo mundo. Se essa pessoa que era o pivô da situação teve algo com ele, foi em relacionamento de amizade e não passava disso. Se houve alguma coisa foi negligência do próprio estabelecimento que ele trabalhava”, afirmou.
Francisca Escóssia ainda reforçou que não recebeu nenhuma ajuda tanto da prefeitura de Fortaleza, que é gestora do hospital Instituto Dr. José Frota, onde o crime aconteceu, como também do Governo do Ceará.
“Para minha família não estão dando nenhum apoio. Minha família está aqui. Eu testou tentando buscar através de vocês Justiça. Ninguém veio até nós. Disseram só que a polícia está resolvendo e que devemos esperar. Dei meu número de telefone e contato e não recebemos nenhuma ligação e orientação”, disse.
“O sentimento é de indignação. Ele estava trabalhando, não estava fazendo nada de errado. Ele trabalhava aqui faz 10 anos. A gente fica ainda com muitas perguntas”, declarou Francisca. Ela disse ainda que a família descobriu sobre o crime através das redes sociais. “Imediatamente, a gente não quis acreditar, mas pedi para meu esposo, que trabalha aqui do lado, para vir aqui e saber realmente o que tinha acontecido. Foi a pior cena que você possa imaginar”, lamentou a secretária.
“A gente não vai deixar pra lá, a gente vai procurar a Justiça e os órgãos competentes para nos trazerem essa resposta e, principalmente, justiça pelo meu irmão, que deixou a mulher grávida e uma criança de seis anos”, completou Francisca, que trabalha como secretária escolar.
A direção do hospital informou na quarta-feira (24) que, minutos após o crime, parentes dos funcionários terceirizados foram acolhidos pelas equipes de assistência do hospital e também pelos membros da gestão da unidade no decorrer do dia. Informam também que prestam atendimento psicológico aos demais funcionários abalados com a situação.
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