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Especialista alerta: uso de filtros do Instagram pode afetar o psicológico de usuários fora da tela

Os recursos utilizados para melhorar a qualidade das postagens podem causar Dismorfia Corporal

Legenda: Carol Militão é influencer e diz ser consciente que o uso de filtros pode gerar o desejo de alcançar um padrão de beleza que não existe

No caso do público que utiliza frequentemente algum filtro em suas postagens para transformar desde a qualidade da imagem, até aspectos como o formato dos lábios, o nariz, alongar cílios ou mesmo produzir uma maquiagem e deixar a pele impecável, a ferramenta pode ser um gatilho para desenvolver o (TDC).

A youtuber cearense Carol Militão, 23, é também uma das influenciadoras digitais que produz conteúdo para redes sociais. Atualmente morando em Portugal, Carol criou seu próprio filtro usado, segundo ela, para melhorar a qualidade, e deixar as fotos mais atraentes.

“Muitas vezes, tiramos uma foto com péssima iluminação e, na edição, é possível recuperá-la. Nos stories, utilizo para deixar a pele suavizada. Muitas vezes, deixo de me maquiar porque, com o filtro consigo um efeito às vezes melhor do que com a aplicação dos produtos”, confessa.

A influencer considera a praticidade e economia de tempo na aplicação do filtro. “Diversas vezes, deixei de criar conteúdo por falta de tempo, pois tinha que arrumar cabelo, me produzir, com o recurso é só ligar a câmera e tenho uma make pronta”, diz.

Militão é consciente do encantamento e círculo vicioso que o aplicativo causa nos usuários. Mesmo assim, não abre mão da ferramenta. Com a maquiagem ela não se sente bonita da mesma maneira com a qual se sente ao aplicar o filtro.

“Sei que o uso do filtro pode gerar em nós, mulheres o desejo de alcançar um padrão de beleza que não existe. Já vi muitas meninas se autoanalisando excessivamente, distorcendo sua forma real e idealizando sua forma filtrada. Elas pretendem mudar o tamanho do nariz, da boca e outras partes do corpo para se igualarem as imagens experimentadas ao usarem os filtros. Pura ilusão, pois os apps criaram um padrão inatingível”, acredita Carol. A influencer se considera cautelosa quando o assunto é transformação estética.

“Convivo nesse meio, mas não me deixo influenciar excessivamente. Por enquanto, o único procedimento que desejo é o preenchimento labial”, comenta.

Procedimentos

As interferências dos filtros também chegam à mesa de cirurgiões plásticos por meio de pessoas que desejam aquele resultado da web na vida real. O cirurgião plástico Gabriel Cavalcanti alerta: “Imagens criadas por filtros não respeitam a anatomia da região, sendo muitas vezes impossível entregar o mesmo resultado na vida real”.

Em relação aos procedimentos mais procurados por homens e mulheres entre 18 a 35 anos nos últimos tempos, o cirurgião destaca os protocolos faciais, a exemplo de preenchimento labial, do queixo, alterações do nariz, olheiras, bolsas ao redor dos olhos, pálpebras e levantamento de sobrancelhas.

Legenda: A designer Brenda Cavalcanti diz que o uso do filtro acelerou sua vontade de fazer alguns procedimentos estéticos

“A exposição excessiva da imagem nas redes sociais nesse longo período de isolamento social fez com que os mais atentos ao visual, independentemente da idade, recorressem aos recursos tecnológicos com a intenção de melhorar a aparência ao participar de reuniões de trabalho, aulas, lives ou encontros com os amigos. Mas também levou essas pessoas a perceberem que algumas das alterações necessitavam de correções para além dos filtros, por isso, recorreram aos procedimentos estéticos”, observa o médico.

Na experiência do pesquisador do Laboratório de Investigações em Análise do Comportamento (LINAC/Unifor), Marlo Lopes é possível imaginar o papel nocivo que os filtros usados no Instagram podem ter no desenvolvimento de TDC e no aumento do número de casos de pessoas que relatam características associadas a esse transtorno. “O mundo da imagem midiática, que começou com o cinema, migrou para a televisão e agora ‘internet’, é um espaço em que as pessoas bem-sucedidas têm corpos e rostos aparentemente perfeitos e fazem de tudo para mantê-los”, destaca Marlo.

“Essas ferramentas possibilitam que pequeno ‘defeito físico’, real ou imaginário, possa ser suprimido, e pessoas comuns possam aparecer para o mundo nos moldes da beleza padrão, aquela que consegue ser bem-sucedida. O problema é que os corpos midiáticos são produzidos, maquiados, e os do mundo real, não”, alerta o psicólogo.

Atenção

Para a designer em marketing de moda e luxo, Brenda Queiroz de Cavalcanti, 28, o uso de filtros no Instagram começou como diversão, mas os de maquiagem ela salvava mais. “Eu ficava procurando um que eu não ficasse tão branca, pois sou negra e a maioria limpa muito a pela, inclusive achei um maravilhoso, meu preferido em que fico da minha cor”, diz.

Igualmente a Carol Militão, Brenda disse que com o tempo percebeu que não fazia mais stories sem usar os filtros. E quando fazia achava estranho, por vezes não gostava, mesmo estando maquiada.

“Não é um estranhamento só meu, mas já ouvi de amigas, colegas relatos de que a pele não estava boa, o nariz não era tão fino, que a boca não era tão grande. Cheguei a conversar com algumas pessoas sobre isso. Li matérias que falavam sobre relatos de pessoas que faziam procedimentos estéticos em busca da beleza dos filtros. No começo me assustou, mas depois eu reparei, que ainda não cheguei a esse ponto de querer me mudar para parecer com filtro. Mas sim, estou um pouco refém deles”, observa.

A dica do psicólogo Marlo Lopes para quem em algum trecho da matéria se identificou com os sintomas do Transtorno da Dismorfia Corporal, o tratamento indicado é a psicoterapia. Infelizmente, muitos buscam tratamentos cirúrgicos ou estéticos que corrijam suas supostas anomalias.

“Isso pode resolver momentaneamente, trazer paz, mas, eventualmente, a pessoa vai encontrar outro defeito, porque continuará a enxergar o corpo como um empecilho, um objeto que precisa ser aperfeiçoado cada vez mais. O acompanhamento medicamentoso com um profissional da psiquiatria deve ser considerado apenas em casos extremos de sofrimento, que coloquem a saúde da pessoa em risco imediato – insônia crônica, automutilação, aumento excessivo da pressão arterial, predisposição a infarto etc.”, recomenda.


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