Crianças desafiam o medo: Cruzam linhas de facções para frequentar aulas com a “Tia” Marina no Bom Jardim
No coração do Bom Jardim, um dos bairros mais vulneráveis de Fortaleza, crianças enfrentam diariamente um desafio que vai além dos deveres escolares: atravessar territórios dominados por facções rivais para receber aulas de reforço escolar. Essas aulas, oferecidas por Marina Rodrigues, soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE), têm se tornado uma luz de esperança em meio à escuridão da violência.
Marina, que também é pedagoga formada e pós-graduada em psicopedagogia e educação especial, iniciou o projeto voluntário “Educação e Paz” em junho de 2023. Atuando há dois anos e dois meses como policial militar, ela decidiu unir suas duas paixões — a educação e a segurança pública — em uma iniciativa que visa transformar a vida de crianças e adolescentes no Residencial Heloneida Studart, uma área marcada pela disputa entre facções.
No terraço do conjunto habitacional, transformado em sala de aula improvisada, Marina oferece reforço escolar três vezes por semana. As mesas, cadeiras, livros e brinquedos foram todos adquiridos por doação ou com o próprio dinheiro de Marina. O projeto, que atende entre 30 e 40 alunos, já é visto pela comunidade como uma oportunidade rara, principalmente em um ambiente onde as opções para os jovens são limitadas.
A rotina não é fácil. Para chegar às aulas, as crianças precisam cruzar fronteiras invisíveis que delimitam territórios de facções rivais. Mesmo assim, elas vêm. “As crianças gostam muito da tia Marina. Ela ensina, tira dúvidas, faz as tarefas, usa o tempo dela. Interage, brinca com as crianças, tem muita paciência”, diz Adriana Maria Torres, avó de Ana Alanis e mãe de coração de Derick, ambos de sete anos.
O projeto, acolhido pela 2ª Companhia do 17º Batalhão da PMCE, não apenas oferece apoio escolar, mas também desenvolve atividades para melhorar a coordenação motora, raciocínio e concentração das crianças. Muitos dos alunos têm diagnósticos de autismo ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o que torna o trabalho de Marina ainda mais desafiador e necessário.
Marina nasceu em Quixeramobim e atuou como professora por seis anos antes de seguir sua vocação policial. Aos 31 anos, ela concilia o trabalho ostensivo nas ruas com a missão de educar. “Meu objetivo está aqui, em meio à segurança pública, em meio à educação, entrando nas comunidades e servindo àqueles que realmente necessitam”, explica.
A presença de Marina no Heloneida Studart é uma forma de resistência. Enquanto os órgãos públicos ainda falham em fornecer o suporte necessário para as famílias do bairro, o projeto “Educação e Paz” tem feito mais pela comunidade do que qualquer operação policial. A tranquilidade ainda não foi completamente estabelecida, mas as crianças que frequentam as aulas já estão começando a ver um futuro diferente, longe da violência e próximo dos livros.
“Se elas não nos verem como exemplo, vão seguir o mau exemplo”, ensina Marina. E assim, com coragem e dedicação, ela se tornou a “tia” que muitos ali precisavam, cruzando suas próprias fronteiras para construir e multiplicar sonhos.
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