“Do início do serviço até o momento, somente em ocorrências de fogo no mato, temos 22 registradas. Vários ABTs no combate”, relatava o oficial do Corpo de Bombeiros de serviço na Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), no último sábado, quatro horas após assumir o serviço. E como os incêndios em vegetação podem se alastrar por áreas que se medem em hectares, esse tipo de combate drenou a força de trabalho da Corporação por todo o dia. “No momento, 15 ocorrências de fogo no mato. ABTs no combate”, informava às 18 horas o mesmo oficial em grupo de comunicação interna dos bombeiros.

Desde o mês de agosto, o incêndio em vegetação disparou em todo o estado. Se de janeiro a julho deste ano, as estatísticas da Ciops registraram 507 ocorrências de incêndio em vegetação em todo o estado, só em agosto houve 441, uma média de mais de 14 por dia. O clima mais seco, meses após o fim da quadra chuvosa, torna mais fácil a disseminação do fogo pelas áreas verdes. Mas é a ação humana, intencional ou não, que desencadeia virtualmente todas as ocorrências desse tipo no Ceará. “Um incêndio que surge de forma espontânea é um fenômeno muito raro de ser observado na natureza, pois só ocorre em condições bem específicas. Nos locais em que há grande acúmulo de matéria orgânica, como lixões e pântanos, ocorre a lenta formação do gás metano, que é inflamável, devido à fermentação realizada pelas bactérias decompositoras. Porém, como a maioria dos incêndios que atendemos acontecem em locais bem diferentes deste perfil, é possível dizer que nossas ocorrências raramente se iniciam sem a ação humana”, explica o primeiro-tenente José Guilherme Veras Neto, mestre em química.

Mas se engana quem acha que o conhecido toco de cigarro despejado em canteiros e terrenos baldios seria um vilão relevante nessa história. Em cursos de especialização em combate a incêndio florestal, é muito comum a prática de tentar induzir fogo no mato por meio de restos de cigarro acesos, a título didático. Os resultados são pífios. Por mais ressecada que esteja a vegetação, não se consegue desencadear o incêndio dessa forma.

É o velho hábito de queimar material indesejável de quintais e terrenos que se revela, na prática a maior ameaça. “É muito comum que o homem queira se livrar de grande quantidade de lixo queimando-o. Nessa época do ano, a ausência de chuvas, o tempo seco e a alta temperatura favorecem o aumento do número desse tipo de ocorrência, em que o incêndio começa em um monturo, mas acaba se espalhando fora de controle para as vegetações ou residências que estejam próximas. Essa prática é muita perigosa e deve-se evitar queimar lixo, procurando o descarte seguro”, propõe o tenente Guilherme.